Sobrecarga no Trabalho e na Universidade
- EmpsiJr
- 20 de dez. de 2019
- 5 min de leitura
Sobrecarga no trabalho
A sobrecarga no ambiente organizacional não é um fenômeno recente: é possível rememorá-la desde os tempos precoces da Indústria, em uma Inglaterra a todo vapor. Apesar disso, seu perfil mudou: de um padrão anteriormente braçal e mecânico, atualmente pode-se observar certa relevância do aspecto mental. Chaplin, em “Tempos Modernos”, se alienava pela ausência da necessidade de se pensar sobre o processo, de não poder ver seus resultados a longo prazo: o fim da linha de montagem. E hoje em dia? Neste exato momento, um CEO pode estar fervendo seus neurônios para montar um planejamento estratégico para o ano que vem.
A sobrecarga e o estresse ocupacional, sejam eles predominantemente físicos ou mentais, têm afetado o corpo. Hoje em dia, é comum ouvir que os trabalhadores estão entrando em burnout.
Mas o que é isso? E como funciona?
Segundo Tamayo (2009), o burnout (também conhecido como “esgotamento profissional”) é uma síndrome psicológica, que se origina de uma tensão emocional crônica no trabalho. A palavra-chave desta definição é “crônica”: não surge do dia para a noite, e se constrói nas bases de um estresse prolongado, cotidiano.
Alguns fatores ou sinais aos quais devemos nos atentar, seja para nosso próprio bem-estar ou daqueles que nos cercam, são o alto volume de trabalho (tanto com relação à carga de tarefas quanto à carga horária para executá-las), o conflito de papéis (no caso de não haver clareza nas definições dos cargos – o que é do escopo de cada um? – ou mesmo caso haja mais de um encarregado para a mesma função, circunstância na qual a distribuição de tarefas deve ser justa), pressão da responsabilidade (especialmente em cargos de liderança), falta de autonomia, recompensas insuficientes (monetárias ou motivacionais) e dificuldades interpessoais (relacionamentos sociais conturbados no ambiente de trabalho).
E como funciona o burnout?
Estudiosos têm verificado três dimensões na constituição da síndrome, sendo elas a exaustão emocional, a despersonalização e a diminuição da realização pessoal. A primeira dimensão está relacionada a um estado de fadiga e esgotamento energético, tanto físico quanto mental, que faz com que se torne cada vez mais difícil suportar as exigências do trabalho, comprometendo o emocional e prejudicando o desenvolvimento de atividades cotidianas. Desse modo, está relacionada a um aspecto individual da síndrome.
A despersonalização, por sua vez, reflete a insensibilidade, cinismo e distanciamento nos relacionamentos com colegas de trabalho, de modo a imperar uma percepção desumanizadora no ambiente organizacional. Esta é, portanto, uma dimensão interpessoal da síndrome de burnout.
O sentimento de ineficácia e a realização da realização profissional, por fim, retrata certa noção de incompetência e/ou desempenho insatisfatório do indivíduo quanto a suas atividades, envolvendo sentimentos de baixa autoestima e desmotivação. Esta dimensão também lida com aspectos particulares ao sujeito.
Conforme traz a literatura da área, algumas das consequências desse esgotamento são o absenteísmo (faltas frequentes), o afastamento do emprego, aumento da rotatividade de funcionários e diminuição da produtividade, depressão, insatisfação ocupacional, bem como prejuízo das relações sociais no ambiente de trabalho.
E o coping?
Autores da área explicam o conceito de coping como sendo a forma como as pessoas normalmente reagem ao estresse. Essa reação, para acontecer, sofre a influência de diversos fatores, sendo eles relativos ao próprio indivíduo, às demandas situacionais e aos recursos disponíveis para lidar com a situação. O coping, antes de mais nada, é individual: cada um reage de uma forma.
Para reagir ao estresse, portanto, nos utilizamos de ações e reavaliações cognitivas: as chamadas estratégias de controle ou as estratégias de esquiva. No caso das primeiras, busca-se o enfrentamento da situação; no caso da segunda, o escape (Pinheiro, Tróccoli & Tamayo, 2003).
Como é sempre preferível prevenir a remediar, é necessário que tenhamos em mente a importância do apoio mútuo, colaboração e resolução de conflitos entre colegas de trabalho: o suporte e a união podem tornar o trabalho menos estressante.
Essa síndrome, no entanto, não comete somente as empresas: o ambiente universitário é um prato cheio para a sobrecarga, acúmulo de tarefas e problemas com prazos.

Sobrecarga no ambiente universitário
A sobrecarga na universidade, assim como em empresas, também não é um fenômeno recente. Ela ocorre com maior intensidade em finais de períodos, entretanto pode acontecer a qualquer momento, com alunos, professores e outros funcionários, tendo cada caso especificidades próprias.
No caso dos alunos, a sobrecarga ocorre pelo fato de a universidade oferecer (e até mesmo obrigar a realização de) muitas atividades, podendo estas ser aulas - obrigatórias e opcionais -, estágios e/ou atividades de extensão, sendo que, em todas estas atividades, é necessário entregar um produto, como um relatório ou trabalho, por exemplo. Assim, os alunos não apenas fazem muitas atividades na própria universidade, como também em suas casas, na forma de demandas do ambiente universitário, o que torna difícil a existência de momentos de descanso.

Quanto a professores e outros funcionários de instituições de ensino superior, a dificuldade da divisão de tarefas entre universidade e lar também existe, tendo como ponto crucial da diferença com relação a alunos é que os docentes, em si, não assistiriam às aulas ou participariam de atividades de extensão: organizariam-nas.
Um ponto que pode se demonstrar preocupante, nesses públicos, é a competitividade que o ambiente universitário gera, já que as pessoas sempre estão tentando se provar melhores do que as outras. Isso pode dar a entender que, caso você não se destaque em determinada atividade, não é bom o suficiente para o que está fazendo ou quer fazer. Desse modo, além de potenciais sobrecarga de trabalho e exaustão emocional, pode acontecer de deixar-se levar pelo estresse (Tostes, 2018), o que é um grande fator de risco para o Burnout, como descrito anteriormente.

Dicas
A sobrecarga é algo difícil de se evitar, mas não quer dizer que seja impossível. Com o uso de alguns métodos pode-se melhorar a organização pessoal e assim dividir melhor as atividades com o passar do semestre e do dia.
Como os cientistas (ainda) não desenvolveram uma ferramenta para controlar o tempo, a melhor solução que temos em mãos é geri-lo: a prática de se planejar permite uma melhor visualização do tempo disponível para a realização de atividades e, também, de seu tempo livre: não há escapatória, você precisa descansar. Desse modo, o uso de uma forma de planejamento, seja ela virtual ou física, pode acabar com aquele hábito de deixar tudo para a última hora (mas lembre-se que a agenda, por si, não é milagrosa: a mudança depende de você).
Um planejamento semanal é recomendado por profissionais da Psicologia Escolar e Educacional, pois garante uma visão mais ampla do que o planejamento diário (comum em agendas). Quando você tem uma visão macro - e hora a hora - dos 7 dias à sua frente (começando hoje!), consegue se organizar com antecedência para eventos, prazos de entrega de atividades, períodos de estudo e mesmo festas. Aliado ao planejamento diário - mais detalhado - e o planejamento mensal (que conta com compromissos a longo prazo), a visão de sua semana possibilita um maior controle sobre o que acontece ou deixa de acontecer, gerando menos ansiedade e procrastinação.
Ferramentas on-line como o Google Agenda também podem te auxiliar nessa jornada, caso você prefira ou lide melhor com a linha high-tech. O aplicativo, disponível tanto para sistemas Android quanto para navegadores (o que proporciona acessibilidade pelo computador), propõe uma visualização flexível de seus compromissos: diária, semanal, mensal e mesmo anual. Além disso, você pode receber notificações de compromissos agendados, para nunca se esquecer do que tem a fazer. Se a tarefa envolve mais de uma pessoa, adicione-a ao evento agendado por meio de seu e-mail, e todos receberão notificações. Tudo isso à distância de um clique.
É importante lembrar que um planejamento não é uma camisa de força: se alguma atividade foi deixada de lado devido a imprevistos, não tenha medo de replanejar. Um futuro com mais saúde mental no trabalho e menos sobrecarga te espera - não espere um sintoma para se cuidar - e se você estava esperando um sinal, é este
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