Saúde Mental no Trabalho Remoto
- EmpsiJr
- 25 de abr. de 2020
- 6 min de leitura
Diante de um cenário de isolamento social, trabalhar em casa deixou de ser opção para se tornar necessidade. Tendo em vista a adaptação a um modelo de home office e os cuidados que devemos ter para mantermos a saúde mental durante esse período, é importante que entendamos algumas perspectivas dessa forma alternativa de trabalho.
O home office, que também pode ser denominado como teletrabalho ou trabalho a distância (entre outros), está associado a uma forma de trabalho realizada remotamente, sem contato pessoal com colegas ou chefes, mas tendo a comunicação assegurada por meio das chamadas TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação). Como o próprio nome sugere, “home”: casa, “office”: escritório, o que traz a noção de um escritório em domicílio. Desse modo, os horários e o espaço produtivo são flexíveis, o que concede ao trabalhador um grau elevado de liberdade e autonomia para organizar-se. Esta modalidade de atividade traz consigo, inerentemente, alguns aspectos positivos e outros nem tanto. Cabe a nós discutirmos e refletirmos sobre eles.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o trabalho remoto tem como vantagens um aumento da produtividade, a redução de custos tanto para as empresas (na forma de redução do espaço físico necessário) quanto para os trabalhadores (com relação a gastos com transporte, por exemplo), além da possibilidade de desenvolvimento de novas habilidades e maior autoconfiança nessas habilidades, pela autonomia exercida. Também viabiliza uma conciliação entre a vida pessoal e profissional, o que poderia levar a um quadro de maior diversidade de funcionários, incluindo mães com filhos pequenos, pessoas com deficiência e pessoas de idade mais avançada, para citar alguns exemplos.
As desvantagens, por sua vez, podem incluir a perda de integração e de um vínculo com a organização, levando a um sentimento de não pertencimento. Nota-se, também, uma possibilidade de sobrecarga, devido a ausência de rotina e horários definidos, o que faz com que, contraditoriamente, a liberdade cerceie a própria liberdade: com tanto tempo livre em mãos, pode se tornar difícil distinguir o tempo para lazer e família do tempo para trabalho. Essa autonomia imposta por tempos de quarentena pode também não representar um real controle por parte do trabalhador, se feitas grandes exigências de produtividade e de disponibilidade (por vezes, induzindo a uma cobrança até maior do que haveria no espaço físico do escritório). O isolamento profissional também pode ser especialmente prejudicial ao gênero feminino, já que a proximidade dos filhos e a tendência, em nossa sociedade, de delegá-las os afazeres domésticos, gera uma jornada de trabalho tripla.

É importante atentar-se, enquanto gestor(a) ou funcionário(a), para a busca pela continuidade do suporte e feedbacks tais como já eram realizados no âmbito de trabalho presencial. Essa possibilidade de troca de conhecimentos, que anteriormente talvez fosse dada de forma espontânea, permite o contínuo desenvolvimento profissional e aprendizagem dos colaboradores. Além disso, manter a comunicação constante entre os membros da empresa é fundamental para manter o fluxo de trabalho e ainda diminuir o impacto do isolamento social, já que diversos profissionais relatam se sentir solitários dentro de uma rotina de trabalho remoto. Algumas empresas recorrem a alternativas online para integrar os funcionários e manter o espírito de time, como implementar a hora do almoço e do café virtuais. Uma boa opção é criar uma sala de vídeo que fica disponível para quem quiser conversar durante os intervalos das atividades.
Se o home office diminui o risco do contágio pelo novo coronavírus, pode aumentar significativamente o esgotamento físico e mental dos funcionários que mantém esse tipo de serviço. Isso acontece porque, diante da incerteza gerada por esse tipo de situação de emergência sanitária e de reordenamento social, as pessoas tiveram que se adequar rapidamente ao trabalho remoto sem qualquer treinamento prévio. Dessa forma, diversos profissionais mudaram bruscamente o seu estilo de trabalho ao mesmo tempo que cumprem a quarentena sozinhos ou com toda a família. Os principais efeitos disso são o mal-estar emocional, dificuldade para realizar tarefas diárias e o aumento da jornada de trabalho ocasionado principalmente pela ausência de organização.

É necessário, em um primeiro momento, evitar informações em excesso sobre o coronavírus. Estar permanentemente conectado não o deixará mais bem informado e pode ser um fator decisivo para o aumento desnecessário da ansiedade, preocupação e nervosismo. Do mesmo modo que sua saúde física pode ser prejudicada por causa da falta de informação, o excesso de informação em relação ao avanço dos casos da doença poderá colocar sua saúde mental em risco. Assim, foque em atitudes práticas para se prevenir, procure consumir o mínimo de conteúdo possível referente a esse assunto e busque informações em fontes fidedignas para compreender o que está ocorrendo, como Organização Mundial da Saúde - OMS, Organização Pan-Americana da Saúde - Opas, instituições de pesquisa e autoridades sanitárias locais.
Para manter a saúde física e mental em tempos de quarentena, é preciso criar novos hábitos e estabelecer uma rotina que seja condizente com a sua realidade. Em alguns casos, a pessoa sente que está com excesso de trabalho, mas na verdade ela está somente desorganizada. Organização é um conceito extremamente importante para garantir uma boa rotina dentro da modalidade de home office. Dessa forma, é necessário o estabelecimento de um cronograma que tenha a definição clara de horários de trabalho e de horários para outros afazeres, como descanso, tarefas domésticas e de lazer.
Destacamos também a importância de realizar atividades práticas que ajudem a reduzir a ansiedade e aumentar o foco, existem diversas ferramentas disponíveis na internet que podem auxiliar nesse sentido. Os aplicativos Zen e Headspace apresentam centenas de meditações guiadas e outros conteúdos para reduzir a ansiedade que podem ser facilmente aplicados no dia à dia. Além disso, outras opções são realizar respiração diafragmática ao menos 3 vezes ao dia ou até mesmo convidar a família para realizar uma série de exercícios apresentadas em um vídeo no YouTube, além de ser uma atividade divertida, vai proporcionar bem-estar para todos. Outro aplicativo interessante é o Forest, a ferramenta ajuda o usuário a gerenciar seu tempo e se tornar menos dependente do celular de uma forma lúdica e divertida. Ao passar um tempo longe de seu celular, o usuário cultiva árvores virtuais e ganha moeda, que podem ser usadas para ajudar a plantar árvores reais em cinco países da África.

Dentro da organização da rotina, é importante respeitar os momentos de pausa e estabelecer um lugar de escritório, que pode ser um cômodo ou até mesmo uma mesa. Para sinalizar tanto para os outros moradores da casa, principalmente para as crianças, que quando estiver naquele local não deve ser incomodado, quanto para quando sair dali, o profissional consiga se desligar das tarefas relacionadas ao trabalho. Planejar a agenda do dia e criar uma lista de prioridades entre as obrigações é uma excelente forma de se manter motivado e dar conta de todos os deveres sem ocasionar a sobrecarga de trabalho. Além disso, é preciso aproveitar certos momentos para realizar atividades que você gosta, mas que geralmente, por falta de tempo, não consegue fazer, como ler um livro, assistir aquele filme famoso ou até mesmo aprender a tocar um novo instrumento. Sinta-se confortável, se organize, tenha um espaço para trabalhar e lembre-se que seu tempo livre é tão importante quanto o tempo de trabalho. Utilize-o da melhor forma possível, pratique atividades de lazer e passe um tempo produtivo com a sua família e amigos.
Para que a transição do trabalho presencial para a modalidade home office não seja brusca, ou para minimizar os efeitos adversos da transição já iniciada, visando o cuidado com a saúde mental de todos os envolvidos, cabe considerar aspectos como o reconhecimento e motivação dos colaboradores, a comunicação de expectativas (objetivos, metas e prazos) com clareza, a comunicação transparente e constante (explicar o contexto de uma decisão e o porquê de ter sido tomada, por exemplo, ajuda a evitar desentendimentos). É importante, ademais, estabelecer um cronograma factível e com horários bem-definidos, contando com pausas e horário de fim do expediente. Acima de tudo, busquemos ser empáticos e nos interessarmos genuinamente pelos colegas, apoiando, orientando e escutando o que têm a dizer: este cenário de Covid-19 é, ainda que de uma maneira controversa, uma oportunidade para estabelecermos relações mais humanas e saudáveis, sendo este a semente para que possamos levá-las para além do período de pandemia.
FONTES:
INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION - ILO. Making work arrangements more family-friendly. 2004. Disponível em: <http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_protect/---protrav/---travail/documents/publication/wcms_170712.pdf>
RAFALSKI, Julia Carolina; ANDRADE, Alexsandro Luiz De. Home-office: aspectos exploratórios do trabalho a partir de casa. Temas psicol., Ribeirão Preto , v. 23, n. 2, p. 431-441, jun. 2015 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2015000200013&lng=pt&nrm=iso>
ROCHA, Cháris Telles Martins da; AMADOR, Fernanda Spanier. O teletrabalho: conceituação e questões para análise. Cad. EBAPE.BR, Rio de Janeiro , v. 16, n. 1, p. 152-162, Jan. 2018 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-39512018000100152&lng=en&nrm=iso>
ROSENFIELD, C. L.; ALVES, D. A. Teletrabalho. In: CATTANI, A. D.; HOLZMANN, L. (Orgs.). Dicionário de trabalho e tecnologia. Porto Alegre: Zouk , 2011b. p. 414-418.
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