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Saúde Mental no Ambiente de Trabalho

  • Foto do escritor: EmpsiJr
    EmpsiJr
  • 22 de set. de 2019
  • 5 min de leitura

Saúde mental é, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um estado de bem-estar físico, mental e social, no qual o indivíduo é capaz de ser produtivo e contribuir com a comunidade. A OMS também ressalta que a saúde não significa apenas a ausência de doenças. Tal apontamento é importante, pois almeja descontruir a ideia de que saúde mental só deve ser discutida e levada a sério em casos mais graves e emergenciais.


A diversidade de coisas que podem afetar a saúde mental é enorme. Alguns fatores são biológicos, tais como a genética de cada indivíduo, a qual influencia a vulnerabilidade do mesmo para determinados transtornos. Outros são ambientais. Um ambiente adequado, que respeita os direitos básicos do ser humano, seus limites e sua individualidade é imprescindível para saúde.


Na atual sociedade, além dos problemas históricos que já estamos enfrentando há tempos – discriminação de gênero, exclusão social, violação dos direitos humanos, etc. –, novos desafios nos foram dados. Temos que aprender a nos adequar às vertiginosas mudanças sociais, estilos de vida e condições de trabalho estressantes, problemas de saúde físicos e, principalmente, mentais em escalas nunca antes vistas.


Assim, se pensarmos na influência que o ambiente em que estamos inseridos tem em nossas vidas, torna-se impossível não considerar – e preocupar-se – com o impacto do trabalho em toda essa discussão. Afinal, durante a vida adulta, grande parte do nosso tempo é transcorrido no trabalho. Ele ocupa um grande espaço no nosso dia-a-dia e nos nossos pensamentos, de forma que, mesmo quando afastados, pode tornar-se uma presença invisível – e, em alguns casos, angustiante – nas nossas atividades mais corriqueiras. Em uma sociedade onde existe cada vez mais pressão sobre a produtividade dos trabalhadores, o peso deste âmbito na saúde mental não pode ser desconsiderado.


Hoje em dia, nós tanto cobramos mais quanto somos mais cobrados. Exigimos mais de nós mesmo e, consequentemente, o estresse é inevitável. O estresse é um dos problemas mais comuns entre os transtornos psicológicos. Ainda mais quando inserimos nesta fórmula a variável do trabalho, do ambiente corporativo, que pode fazer de produtividade e metas o foco da vida do trabalhador.


Há outros fatores que também não podem ser ignorados. Um ambiente organizacional muito competitivo, por exemplo, tem maiores chances de causar altos índices de estresse. A submissão a lideranças autoritárias e inflexíveis, a falta de comunicação entre os colaboradores, o assédio moral na forma de constrangimentos e humilhações, bem como o aumento exacerbado no ritmo de trabalho, também são elementos que podem afetar a saúde dos envolvidos. Além disso, análises apontam que o atual fácil acesso a informações contribui para uma sobrecarga de responsabilidades, as quais podem ocasionar estresse prolongado e, mais tarde, quadros de ansiedade, depressão e até problemas físicos, como doenças cardíacas e neurológicas.


O mercado se torna mais complexo e competitivo, e novos desafios são impostos às organizações, que tentam balancear isso exigindo níveis de desempenho cada vez maiores dos trabalhadores e desconsiderando o sofrimento mental que isto pode acarretar. Exercer funções relacionadas ao trabalho requer esforço, atenção e energia, e, apesar de frustrações serem parte do processo, há condições que podem agravar este quadro a graus extremamente prejudiciais. Condições como, por exemplo: ameaça constante de perda de emprego; trabalho desprovido de significação e suporte social; impossibilidade de comunicação espontânea e manifestação de insatisfações; jornadas longas de trabalho, com ritmos intensos e monótonos; pressão por produtividade; vivência de acidentes traumáticos no trabalho, entre outros.


Estes fatores de risco, por sua vez, quando ignorados, podem ter consequências incomensuráveis na vida das pessoas. Tais consequências afetam diretamente o ambiente de trabalho.


Os transtornos mentais estão entre as principais causas de perdas de dias de trabalho no mundo. Casos mais leves causam uma média de quatro dias de perda ao ano, e os mais graves uma média de 200 dias. Além disso, uma das principais causas de incapacidade laboral atualmente é a depressão, que acomete cerca de 300 milhões de pessoas ao redor do mundo. Segundo a OMS, os transtornos mentais comuns acometem cerca de 30% dos trabalhadores e serão a principal causa de incapacidade até 2020.


Ademais, transtornos mentais são extremamente custosos para a sociedade no geral. Na Europa, por exemplo, os custos ultrapassam 3% a 4% do PIB. No Brasil, são a terceira causa de benefício previdenciário auxílio-doença. Segundo uma pesquisa realizada pela OMS, a estimativa é de que os transtornos depressivos e de ansiedade custem 1 trilhão de dólares à economia global a cada ano por perda de produtividade.


É importante notar também que a maior parte dos gastos com transtornos mentais são indiretos, ou seja, envolvendo mortes prematuras, perda de produtividade no trabalho, menor escolaridade, utilização de benefícios sociais e aumento de despesas judiciais. No campo laboral, este custo se traduz na forma de: absenteísmo (soma dos períodos de ausência de um funcionário de seu ambiente de trabalho), presenteísmo (fenômeno em que se está com o corpo presente no ambiente de trabalho, mas não tem produtividade), afastamento e aposentadoria precoce. Um estudo britânico apontou que os custos indiretos por absenteísmo causado pela depressão eram 23 vezes maiores do que os custos diretos com assistência e tratamento.


Em suma, é possível perceber o quão impactante e preocupante é a questão da saúde mental no ambiente de trabalho, tanto no Brasil como no mundo. Apesar disso, toda essa discussão ainda é considerada tabu em muitas empresas. Expressões pejorativas e menosprezativas, como “frescura” ou “loucura”, ainda são muito comuns de aparecerem quando o tema é abordado.


Mas, com estatísticas tão desesperadoras, a questão que surge espontaneamente é, afinal, como lidar com este problema?


Atualmente, muitas empresas já investem em atividades físicas e de relaxamento para promover o bem-estar entre os funcionários. No entanto, isso não é o suficiente se algumas adversidades maiores – tais como pressões desnecessárias, situações de assédio, falta de transparência, entre outros – não forem evitadas ou solucionadas.


A preocupação com o indivíduo, no exercício da empatia, também deve estar sempre presente. Fatores externos, como problemas de saúde na família ou morte de relativos, afetam a vida das pessoas e devem ser levados em conta. O respeito ao horário de trabalho, assim como ao período de férias, também são indispensáveis, pois a desconexão com as responsabilidades laborais é necessária para uma boa manutenção da saúde mental.


Além disso, é prudente e recomendável que a empresa, os gestores e funcionários sejam orientados adequadamente para reconhecer sinais de um possível transtorno psicológico. Alterações do comportamento e do humor, como quietude não-habitual, evitação de contato social ou reações agressivas podem ser sinais de alerta. A perda de interesse em atividades previamente prazerosas e modificações no apetite e hábitos de sono também são cenários bem comuns e alarmantes.


Nestas ocasiões, o recomendado é que o colaborador busque ajuda quando necessário e apoie quem estiver precisando de ajuda. É preciso conversar sobre as necessidades emocionais e praticar constantemente o autocuidado. É preciso compreender e alertar a todos sobre ferramentas de apoio e onde é possível encontrar auxílio – seja dentro da organização ou fora.


As intervenções nas organizações devem ser tanto de cunho preventivo, reduzindo os fatores de risco e desenvolvendo aspectos positivos dos colaboradores, quanto na atuação em aflições já instaladas, enfrentando os quadros de problemas de saúde mental. É imprescindível que estas intervenções sejam uma estratégia integrada que aborde prevenção, identificação precoce, apoio e reabilitação.


Dentre as iniciativas que podem ser implementadas para auxiliar na prevenção de transtornos mentais, temos: flexibilidade nas jornadas de trabalho; enfrentamento de dinâmicas negativas do ambiente; comunicação com apoio confidencial, entre outros. A OMS também ressalta que é responsabilidade das organizações apoiar indivíduos com transtornos mentais para que estes possam continuar ou retornar sãos ao trabalho.

Em conclusão, devemos sempre lembrar que um ambiente de trabalho saudável não é aquele em que colaboradores prezam apenas pela produtividade, mas, também, pela promoção e proteção da saúde, segurança e bem-estar de todos que o compõem.




FONTES:

Mentes Depressivas, de Ana Beatriz Barbosa Silva (2016)

Vença a depressão antes que ela vença você, de Robert L. Leahy (2015)

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